domingo, 7 de novembro de 2010

DEVEMOS GUARDAR O SÁBADO ?

Falar sobre o sábado é muito delicado,tendo em vista que muitas denominações acreditam ser ele um dia santificado por Deus e que este dia é o sinal de aliança entre Deus e seu povo,mesmo assim quero fazer considerações que acho pertinentes a este assunto.
O sábado ou sabbath "dia de descanso"é o quarto mandamento e encontra-se em Êxodo 20:8-11 "Lembra-te do dia de sábado,para santificá-lo.v.9 Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos,v.10 mas o sétimo é o sábado dedicado ao Senhor,o teu Deus.Nesse dia não farás trabalho algum,nem tu,nem teus filhos ou filhas,nem teus servos e servas,nem teus animais,nem os estrangeiros que moram em tuas cidades.v.11 Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra,o mar e tudo o que neles existe,mas no sétimo dia descansou.Portanto,o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou".
Aqui neste texto observamos que o fato de Deus ter santificado o sábado foi devido a Ele mesmo ter descansado no sétimo dia após a criação de sua obra.
Observe que neste texto existe uma curiosidade,no v.11 o texto diz:"que o Senhor fez toda sua obra em seis dias e descansou no sétimo,por este motivo abençoou Ele o sábado",amados irmão não quero parecer cético mas você acredita que Deus realmente estava cansado?E se Deus não estava cansado o que motivou realmente a guarda do sábado?
Agora vamos fazer um paralelo deste texto com o texto que retrata a segunda vez que Deus entregou a Moisés as tábuas do decálogo"Dez Mandamentos",para melhor entendimento da matéria,que encontra-se em Deuteronômio 5:12-15 "Guardarás o dia de sábado a fim de santificá-lo,conforme o Senhor,o teu Deus,te ordenou.v.13Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos,v.14 mas no sétimo dia é sábado para o Senhor,o teu Deus.Nesse dia não farás trabalho algum,nem tu nem teu filho ou filha,nem o teu servo ou serva,nem teu boi,teu jumento ou qualquer dos teus animais,nem o estrangeiro que estiver em tua propriedade;para que o teu servo e a tua serva descansem como tu.v.15 Lembra-te de que foste escravo no Egito e que o Senhor,o teu Deus,te tirou de lá com mão poderosa e com braço forte.Por isso o Senhor,o teu Deus,te ordenou que guardaste o sábado".
Preste bem a atenção neste segundo texto,em lugar algum Deus declara que santificou o sábado por ter Ele trabalhado seis dias e descansado no sétimo,mas observando com atenção no final do v.14 a preocupação de Deus é que os servos e estrangeiros também descansem como seus senhores,e no v.15 Ele ratifica esta intenção e exorta o povo a se lembrar que foram escravos no Egito,e que por este motivo santificou o sábado,e não por ter descansado ao sétimo dia,tal exortação é para que eles não façam o mesmo com os seus escravos e estrangeiros,ou seja, pratiquem injustiça com os menos favorecidos.
Podemos observar comparando ambos os textos que nosso Deus tem um senso de justiça sem igual,e que seu amor ultrapassa qualquer limite de raciocínio humano,e que a guarda do sábado foi para preservar os direitos fundamentais dos servos e escravos,pois Deus sempre primou pela dignidade da pessoa humana,sempre colocou o homem em primeiro lugar em suas prioridades.
Ainda para confirmar a intenção de Deus sobre o sábado quero lhes citar um terceiro texto,que encontra-se em Êxodo 23:09-12 "Não oprima o estrangeiro.Vocês sabem o que é ser estrangeiro,pois foram estrangeiros no Egito. v.10 Plantem e colham em sua terra durante seis anos, v.11 mas no sétimo deixem-na descansar sem cultivá-la.Assim os pobres do povo poderão comer o que crescer por si,e o que restar ficará para os animais do campo.Façam o mesmo com as suas vinhas e com os seus olivais. v.12 Em seis dias façam os seus trabalhos ,mas no sétimo não trabalhem,para que seu boi e o seu jumento possam descansar,e o seu escravo e o estrangeiro renovem as forças".Na tradução Revista e corrigida "e para que tome alento o filho da escrava e do estrangeiro".
No v.9 novamente Deus exorta para não maltratar o estrangeiro e faz o povo se lembrar que já foi estrangeiro no Egito,observe que Deus usa os mesmos princípios que utilizou em DT 5:14,15,no v.10 e 11 Ele ordena que no sétimo ano deixem descansar a terra,assim os pobres poderão comer do que crescer,Deus nos dando uma lição de amor,dando a oportunidade de que os pobres comam do melhor que a terra produz,e por fim o v.12 onde Deus ordena novamente a guarda do sábado,para que o estrangeiro e servo possam renovar as suas forças e em outra tradução dar alento aos filhos,amados irmão não dá para negar que a preocupação de Deus era com a qualidade de vida dos menos favorecidos,Deus simplesmente santificou o sábado para que o povo de Israel respeitassem os direitos fundamentais de seus escravos e estrangeiros,que não teria nenhuma justiça social se Deus todo poderoso não viesse a intervir separando o sábado,agora é de uma tremenda falta de humanidade e amor ao próximo acreditar que Deus se apega a um dia para ser sinal de aliança entre ele e o povo e não acreditar que o sinal entre Deus e nós é o amor ao próximo e a justiça.
Trazendo aos dias atuais, observamos que em nosso país não existem mais escravos ,"in tese",e que existem leis civis e trabalhistas que protegem os direitos dos cidadãos,leis estas que não existiam naquele período,fato que motivou a intervenção de Deus diretamente para que esses direitos fossem efetivados,visualizando por este prisma podemos concluir que a guarda do sábado não é para nós,nem tão pouco o domingo,como alguns cristãos costumam a dizer,é sabido por todos que no domingo aconteceram fatos fundamentais a nossa fé,mas isso não o torna dia do Senhor,para o verdadeiro cristão todos os dias são do Senhor desde que praticamos o amor e a justiça.
Agora se você acredita que Deus realmente descansou no sétimo dia e por este motivo o santificou,continue guardando o sábado,porém se acreditar que foi uma medida social adotada por Deus para garantir os direitos básicos e fundamentais dos escravos e estrangeiros considere-se livre.

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terça-feira, 2 de novembro de 2010

A igreja tem autoridade para excluir?

Quero deixar bem claro que este estudo não é de minha autoria e sim de meu professor de novo testamento Anderson Lima,o motivo pelo qual estou publicando esta matéria em meu blog é devido tratar-se de um tema delicado e que infelizmente conduziu muitas almas a perdição,e através desta matéria quero compartilhar com os leitores um visão um pouco mais ampla sobre este polêmico assunto .A pergunta que nosso título coloca não é tão simples quanto pode parecer. Trata-se de um tema difícil, mas que procurarei abordar de maneira breve nas próximas páginas. Tenho feito isso já há algum tempo; escolho falar principalmente de temas complexos, onde há divergências de interpretações, e uma coisa interessante a observar quando nos debruçamos sobre temas difíceis ou polêmicos, é que geralmente o procedimento adotado pelas igrejas cristãs é diferente daquele sugerido pelo texto bíblico. Assim, mais que solucionar controvérsias seculares, procuro propor aos cristãos sinceros uma nova maneira de viver seu cristianismo. As pretensões são, portanto, mui modestas; nossas reformas são individuais e não sistêmicas. Contudo, não considero a discussão de hoje de pouca importância, pois a não compreensão do assunto já ocasionou muita injustiça, muitos traumas, muita violência e muitas mortes.
Para falar da exclusão ou mesmo excomunhão em igrejas cristãs, temos que delimitar nosso tema. Eu não tenho competência para falar de determinações legais. Acredito que uma igreja não pode escolher seus membros e impedir a entrada de quem quer que seja de acordo com a lei, mas só posso manter minhas argumentações dentro dos limites bíblicos, minha área de estudos. Então, teremos um estudo bíblico, o que é (temos que admitir) uma abordagem limitada para este tema. Espero que atenda às expectativas dos meus leitores, cada vez mais competentes e exigentes.
Entrando agora em nosso problema, gostaria de transcrever abaixo uma passagem bíblica que é provavelmente a mais usada para tratar do tema “exclusão”. Trata-se de Mateus 18.15-17, que diz assim:
(15) Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão. (16) Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que, pela boca de duas ou três testemunhas, toda palavra seja confirmada. (17) E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano”
Aqui está um texto que costuma ser citado todas as vezes que se quer justificar o afastamento forçado de alguém. Lendo-o rapidamente vemos que há um personagem anônimo, provavelmente um cristão que peca contra um irmão e não aceita a repreensão de ninguém. As tentativas de demovê-lo são progressivas; primeiro ele é repreendido individualmente pelo irmão ofendido, depois por ele e mais outros, e por fim, por toda a igreja. Após estas tentativas, o pecador obstinado parece ser excluído da comunhão da igreja, pois passa a ser tratado como pecador e publicano. Bem, esse é o resultado de uma leitura rápida, mas há detalhes que quero abordar mais atentamente, pois acredito que nesses detalhes se escondem os segredos para leitura correta do texto.
Não sabemos que tipo de pecado foi cometido, mas o texto é só um exemplo, e pode ser aplicado a diversos tipos de pecados. Em todo caso, sabemos que é um pecado contra o irmão, o que já exclui grande número de possibilidades pecaminosas. Também estamos falando de algum tipo de erro que prejudica o próximo, e fazer mal ao próximo é quebrar um dos grandes mandamentos do amor (Mt 22.37-40). Um cristão que ofende um irmão está maculando o cristianismo em sua essência. Outra coisa que o texto nos diz é que esse pecado contra o irmão é mal visto por toda a comunidade. Veja que toda a igreja repreende o pecador conjuntamente tentando convencê-lo do erro, o que significa que não temos um líder qualquer tomando a decisão de excluir ninguém em nome dos outros. Trata-se de uma audiência pública, onde não há dois partidos lutando, mas uma pessoa que sozinha nega-se a seguir a opinião unânime da igreja, que provavelmente é mais acertada. Isso também exclui muitos pecados que são de particular interpretação, pois o erro em questão tem de ser óbvio. Em resumo, o processo indicado no texto só se aplica em casos extremos, onde não existem dúvidas sobre o mau procedimento do suposto réu, e todas as tentativas de conversão foram feitas.
Agora um detalhe mais técnico. Eu mesmo fui levado a usar o termo “réu” no final parágrafo anterior, palavra que pertence ao campo semântico dos julgamentos, cujo lugar vivencial é o tribunal. Mas será que temos em Mateus 18 um julgamento? O que nos leva a ver assim este texto? Penso que nossas Bíblias nos conduzem a isso ao empregarem outro termo jurídico que é “testemunhas”. Lendo isso nós somos automaticamente remetidos aos tribunais, e o pecador se torna um réu que deve se defender de acusadores. Todavia há nisso um possível problema de tradução, pois o substantivo grego que traduzimos por “testemunha” é martys, de onde deriva a nossa palavra martírio. Ela pode sim significar “testemunha”, alguém que está ali para declarar como ocorreu determinado evento, mas também possui um sentido menos jurídico, o de testemunhar ou proclamar a respeito do evangelho. Esse é o sentido que damos ao testemunho dos mártires, uma prova da veracidade do evangelho através da submissão à morte. Assim, é bem provável que a igreja de Mateus não esteja sugerindo a instituição de um tribunal contra o pecador, mas que esteja incentivando a pregação para que ele volte atrás. Essa proposta ocasiona uma pequena mudança na leitura do versículo 16 de conseqüências gigantescas; o objetivo já não é provar a culpa do pecador publicamente para então condená-lo, mas resgatá-lo através da pregação.
Confesso que posso estar enganado na hipótese acima, mas ela está de acordo com o que o texto diz no final. Como vimos, é fácil imaginar a partir do verso 17 que o pecador obstinado deve ser excluído da igreja; e ficamos com a impressão de que ele é esquecido, deixado de lado porque não quis ouvir aos apelos dos irmãos. Entretanto, mesmo em casos extremos em que um pecador ofende seu irmão, quebra o grande mandamento do amor ao próximo e não dá ouvidos a todos os apelos e pregações, fazendo-se um verdadeiro teimosos, não há condenação. O que o texto diz é que esse pecador deve ser tratado com pecador e publicano, e esses tais pecadores e publicanos são exatamente os alvos principais de nossa evangelização (obs. para uma boa hermenêutica desse texto não devemos nos deter nas categorias distintas de publicanos e pecadores, mas vê-los como categorias que resumem todos os tipos de pecadores que devem ser alcançados pela evangelização cristã).
Lembre-se de Jesus, que era na verdade mais amigo dos pecadores e publicanos do que dos religiosos. A pena, portanto, para um ex-irmão que se tornou um pecador obstinado, é que ele deve continuar sendo amigo da comunidade, comendo com eles, freqüentando a casa deles caso deseje, para que nessas ocasiões continue ouvindo sobre Jesus Cristo e quiçá se converta de seus maus caminhos. Nós, com nossa sede de vingança é que já usamos esse texto para excluir pessoas e por vezes até excomungá-las.
Anos atrás ouvi de um senhor que os protestantes não terão salvação, mas somente os católicos. O argumento era que Martinho Lutero fora excomungado pela igreja nos dias da reforma, e todos os descendentes do reformador estavam com ele fora da comunhão. Esta afirmação é tão ridícula que nem merece nossas considerações, mas será que a igreja tem esse direito de excomungar alguém e impedir-lhe a salvação? Será que algum homem recebeu o poder de salvar ou condenar outrem?
Lemos Mateus 18.15-17 e vimos que o texto é mais inclusivo do que pensávamos. Os pecadores continuam nossos amigos, e não devem ser afastados da igreja, embora não se concorde com o erro deles. A unidade textual seguinte, Mateus 18.18-19, dá ênfase à autoridade da igreja:
“Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus”
Algo parecido foi dito antes, quando Jesus diz a Pedro: “E eu te darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mateus 16.19).
Parece que a igreja católica estava correta ao entender que o texto bíblico dá ao cristão a autoridade para excluir pessoas, porém, o uso que se faz dos textos não está de acordo com o princípio cristão. Como certa vez me alertou meu professor e orientador Dr. Paulo Roberto Garcia, o objetivo dessas passagens não é nos dar autoridade para julgar os outros, mas nos alertar a respeito da grande responsabilidade que temos. Noutras palavras, a igreja possui as chaves das portas do céu, e pode até fechá-las a algumas pessoas, mas a sua responsabilidade é abrir tais portas para todos. A idéia é que no futuro, caso alguém não se encontre no Reino dos Céus, Deus poderá cobrar tais almas da igreja perguntando: “Você tinha a chave, por que você não abriu a porta para aquela pessoa entrar?”. Novamente, os textos nos responsabilizam pela salvação alheia, e não procuram nos dar o direito de condenação, o que seria contrário ao mandamento de não julgar (Mateus 7.1-5).
Falei do modo como deve-se tratar o pecador obstinado e da responsabilidade da igreja pela salvação de todos. Os textos estão na sequência em Mateus, devem ser lido conjuntamente. Agora, essa leitura pode ser confirmada pelo texto anterior a esses, Mateus 18.12-14:
“Que vos parece? Se algum homem tiver cem ovelhas, e uma delas se desgarrar, não irá pelos montes, deixando as noventa e nove, em busca da que se desgarrou? E, se, porventura, a acha, em verdade vos digo que maior prazer tem por aquela do que pelas noventa e nove que se não desgarraram. Assim também não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca”
E esses não são os únicos textos desse agrupamento, que pretende destacar exatamente a necessidade de se lutar por todos os filhos de Deus. Como ler essa analogia da ovelha perdida, que fala claramente que Deus não quer que ninguém se perca, e em seguida interpretar Mt 18.15-17 como um texto que legitima a exclusão? Isso seria um crime exegético imperdoável, mas coisa que fazemos quando queremos justificar biblicamente nossas atitudes desumanas.Complementando no final da perícope no v.21 "Então ,Pedro,aproximando-se dele,disse:Senhor,até quantas vezes pecará meu irmão contra mim,e eu lhe perdoarei?Até sete?v.22"Jesus lhe disse:Não te digo que até sete,mas até setenta vezes sete".
Enfim, não expulse ninguém da igreja, nem trate cristãos e não-cristãos com distinção; não amaldiçoe ninguém nem se faça juiz em lugar de Deus; não desista do pecador e não deixe de perdoar seu ofensor... se quiser inclua isso nas margens da sua a mais usá-la como defensora de suas más ações.